1701 a 1720

1701

Fora a descoberta do ouro extraordinária causa de despovoamento das aldeias índias de São Paulo. Humanitária se mostrou a atuação de Artur de Sá e Meneses, procurando proteger os pobres aborígines da cobiça dos brancos.

Como patrono dos infelizes autóctones colocou o enérgico e bondoso Isidro Tinoco de Sá a quem D. Pedro II, em 1701, agradecia os serviços prestados aos seus vassalos de cor de cobre.

Viviam as Câmaras a alegar aos Reis a falta de índios a fim de se poder prosseguir na descoberta de novas minas, circunstância que bem sabiam quanto espicaçava a atenção real. A 9 de dezembro de 1701 ordenava D. Pedro II a Artur de Sá que lhe desse parecer sobre esta representação. Seu sucessor D. Álvaro da Silveira, respondendo em 1702, declarava à Coroa que a queixa da câmara de São Paulo se mostrava “intempestiva”.

1702

Verdadeiro e justíssimo terror continuavam a causar entre as indefesas populações as epidemias de varíola, pavor aliás universal. Em São Paulo, a frialdade do planalto agravava as condições da letalidade.

Apesar de todas as medidas de ordem profilática, como os cordões sanitários, a proibição expressa de contato com os enfermos e outras, irrompiam freqüentes as pandemias. Ocorreu em 1702 fortíssimo surto mortífero.

1708

Muito mais abundantes, como então eram as águas do planalto, também se mostravam as inundações incomparavelmente mais espraiadas. Assim o aterrado da Luz, que levava à Ponte Grande, exigia contínuo cuidado. As boiadas eis as grandes arruinadoras dos caminhos e das toscas pontes. A Câmara de 1708, debalde afixava quartéis contra os abusos dos boiadeiros.

1709

Houvera realmente, de 1686 até o fim do século, uma série de atos municipais, altamente lesivos aos índios, para quem mandara a Coroa, como se sabe, reservar largas áreas.

Esta carência de braços, imperiosíssima, num momento em que todas as energias se voltavam para a descoberta e exploração das jazidas minerais refletia-se cruelmente sob a forma de inaturáveis exigências feitas aos pobres indígenas.

Para os aliviar prometeu o Rei, que “a fim de que lhe não faltassem escravos para o trabalho das minas do ouro” se vendessem anualmente em São Paulo duzentos negros dos que iam de Angola ao Rio de Janeiro, e pelo mesmo preço dos da terra.

Pouco depois levava o Governador fluminense, D. Álvaro de Albuquerque, as queixas dos paulistas ao monarca, apoiando-as vigorosamente.

Mal podiam remediar às exigências das lavouras com tão diminuta quota. Nada lhes sobrava para o benefício das minas.

Resolveu D. João V, pela ordem de 24 de março de 1709, permitir a qualquer vassalo “poder navegar os escravos que lhe parecesse e vender para São Paulo e suas minas quantos lhe conviesse”.

A tensão de relações entre paulistas e emboabas reflete-se nítida nas Atas da Câmara de São Paulo e pela primeira vez em fins de 1707.

Os primeiros ecos nos acontecimentos sanguinolentos das Minas Gerais ressoam nas Atas a 15 de fevereiro de 1709. Lança a Câmara Paulistana alto brado de solidariedade, em solene e orgulhosa atestação dos direitos de sua gente sobre aquele território “nossa conquista”.

Apelava para o veredicto de uma assembléia popular.

Foi então que “a instância e requerimento no Povo, todos universalmente e todos por uma voz, elegeram por cabo universal para qualquer invasão e defensa da pátria, bem comum dela e sua conservação ao Capitão Amador Bueno da Veyga, a quem haviam de obedecer como a seu cabo maior em tudo o que fosse em prol do que assim ficava dito”.

Cento e dezessete cidadãos acompanharam a Câmara. A assinatura de Amador Bueno da Veiga, o eleito Cabo Maior, foi a primeira que surgiu após as dos oficiais.

A ela se seguiram as de muitos homens notáveis do bandeirantismo.

Curiosas as declarações restritivas de dois personagens da mais alta importância, em uma república: Pedro Taques de Almeida que declarou “assino constrangido” e Manuel Bueno da Fonseca que ainda mais longe foi: “Assino constrangido e molestado”.

Quatro meses decorreram antes de se porem os paulistas em marcha para o revide do morticínio no Capão da Traição.

Interessante a declaração que Amador Bueno da Veiga deixou perante os camaristas. À expedição qualificava de “viagem para as Minas por bem da pátria”.

A 24 de agosto clamou a câmara à sua presença o Cabo Maior e fez-lhe observações graves. Levaram estas o caudilho a compromissos sérios, tendentes a demonstrar que acima de tudo eram os paulistas leais vassalos de Sua Majestade.

Sabedor no que ocorria com São Paulo alvorotou-se o recém-nomeado Capitão-General Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho, a quem incumbira D. João V a pacificação na zona mineira. Empossado do governo, a 11 de junho de 1709, no Rio de Janeiro, partiu imediatamente para as Minas. Ali, como se sabe, obteve a submissão de Nunes Viana, excluído, aliás, da anistia régia, indo então a São Paulo, a ver se conseguia aplacar a justa ira dos paulistas.

Foi então que em Guaratinguetá encontrou acampado o corpo de exército de Amador Bueno da Veiga.

Não conseguindo desarmar os paulistas, e receoso de desacato, retirou-se para o Rio de Janeiro. Fracassou, porém, como tanto é sabido, a campanha de Amador Bueno ante a resistência dos emboabas assediados no Rio das Mortes mais tarde São João d’El-Rei. Hábil político de largas vistas começou Albuquerque a entabolar negociações com a Câmara de São Paulo a quem enviou um retrato de D. João V.

Era El-Rei que, embora em efígie, visitava os seus bons vassalos.

Assegurava-lhes anistia geral e proteção, para que no território mineiro, por eles descoberto, garantias houvesse, plenas, para todos os súditos da Monarquia.

1710

Se em anos anteriores, em que houvera maiores recursos, vivia constantemente arruinado o Caminho do Mar, que seria agora, com o despovoamento do planalto?

Em princípios de 1710, e à custa de ingentes sacrifícios, fez-se o conserto geral da estrada.