João Ramalho

João Ramalho nasceu em Vouzela, Portugal, em 1493 e morreu em São Paulo em 1580. Foi um explorador português, que se internou pelo mato e confraternizou com os índios.

João Ramalho em pintura de Wasth Rodrigues

Filho de João Vieira Maldonado e Catarina Afonso de Balbode, era casado em Portugal com Catarina Fernandes, a quem nunca mais viu depois da partida em 1512 em uma nau buscando a Ilha do Paraíso no Brasil. Naufragou na costa da futura capitania de São Vicente, hoje estado de São Paulo, por volta de 1513.

Encontrado pela tribo dos Guaianases, adaptou-se à vida no Novo Mundo ganhando prestígio junto aos índios com quem vivia. Viva na taba dos Guaianás, chefiada pelo Cacique Tibiriçá, que dominava a região de Piratininga junto com seus irmãos Caiubi e Piquerobi, estes estrategicamente localizados o primeiro na região sul, próximo à confluência dos rios Guarapiranga e Jurubatuba (região denominada de Ibirapuera e depois Santo Amaro) e o segundo na região leste, ás margens do rio Anhembi, ou Tietê (local chamado Uraraí e depois São Miguel Paulista).


A taba de Tibiriçá situava-se próxima à nascente do Rio Tamanduateí, num local denominado Guapituba (em terras do atual município de Mauá). A uma distância de menos de duas léguas dali Ramalho instalara um posto de observação permanente de toda a orla de São Vicente (na atual Vila de Paranapiacaba). O interesse era acompanhar a entrada de navios na baía e no porto. Se fossem invasores, descia com sua tropa de portugueses, índios e mamelucos para combater. Senão, seriam parceiros com os quais poderia traficar índios inimigos, aprisionados em combates.

Casou-se com a filha do Cacique Tibiriçá, Bartira, batizada Isabel Dias. Do casamento resultaram nove filhos, porém João teve filhos também com outras índias, já que na cultura nativa havia grande liberdade sexual e, além do mais, Ramalho queria agradar os demais caciques e estabelecer vínculos, ao receber suas filhas.

Ramalho e outros degredados que o rodeavam, viviam em boa paz com os índios amigos, cujos costumes que lhes apraziam logo absorveram, sem tentar lhes impingir os seus.

Com os filhos, estabeleceu postos no litoral para fazer comércio com europeus, vendendo índios prisioneiros para serem escravizados, construindo bergantins (uma embarcação do tipo da galé, de um a dois mastros e velas redondas ou vela latina), reabastecendo os navios em trânsito e negociando o pau-brasil. Nas excursões pelo interior para capturar índios para serem vendidos como escravos, os filhos de João Ramalho, mamelucos com metade de sangue indígena, comportavam-se com extrema crueldade.

Fundou no planalto de Piratininga, uma povoação que batizou Santo André da Borda do Campo, elevada em 1553 à categoria de vila, da qual foi capitão, alcaide e vereador. João III de Portugal o nomeou Guarda-mor das terras altas de Piratininga, título entregue por Martim Afonso de Sousa, quando foi recebido por Ramalho no planalto.

Como intermediário, ajudou Martim Afonso de Sousa na fundação de São Vicente, em 1532. Acompanhado de parentes, transferiu-se depois de Santo André para a povoação de São Paulo, fundada pelo padre Manuel da Nóbrega, depois que os jesuítas chegaram em 1549 ao Brasil.

Foi um dos responsáveis pela expulsão, em 10 de julho de 1562, dos Tamoios confederados que haviam atacado a então vila de São Paulo. 

Em 1564, ocorreu nova e grande tensão entre os moradores da vila e índios hostis, cujo chefe militar continuava a ser João Ramalho, que neste ano afastou-se da vila paulistana. João Ramalho resolveu abandonar o Planalto e ir morar longe. E foi habitar uma cabana rústica no vale do Paraíba. Hospedou-se em casa de Luís Martins.

Estava velho e cansado. Apesar de tudo, embora na quadra dos setenta anos, não tinha uma cã (cabelos brancos) na cabeça nem no rosto, e costumava andar nove léguas a pé antes de jantar.

No dia 15 de fevereiro de 1564, um grupo pacífico de homens foi procurá-lo na sua casa. João Ramalho recebeu-os com certo embaraço. Era uma comissão do Conselho Paulista. Vieram comunicar-lhe que a gente de Piratininga o havia eleito para vereador de sua Câmara. Ramalho ouviu tudo com a maior atenção. Seu olhar parecia andar por muito longe, distante mesmo... Lembrava-se, talvez, das ingratidões de que fora vítima.

Recordava-se das humilhações sofridas. E então solene, pausado, com um tom superior, retorquiu, altivo:

"Não aceito. Vivo bem no meu exílio. Pra que voltar? Além disso, estou velho: sou um homem que já passou dos setenta anos... Digam ao Conselho que João Ramalho declina da honraria, e prefere ficar onde se encontra: prefere acabar seus dias entre os contrários do Paraíba, na terra dos índios." 

Morreu em 1580.

Sabe-se que pelo menos alguns dos seus descendentes habitavam a aldeia indígena de Guanga, dentre eles Francisco Ramalho, o Tamarutaca.

Estátua em homenagem a
João Ramalho,
localizada na cidade
de Santo André