A Rua XV de Novembro durante muito tempo foi a principal artéria do Triângulo, quando o centro da cidade era delimitado pelo encontro de três ruas - São Bento, Direita e XV de Novembro.
A rua teve três outros nomes antes de oficialmente ser XV de Novembro, e cada nome teve sua participação na historia:
Já no século XVII há documentos referentes à Rua do Paço Manoel Paes de Linhares. Homenagem a um suposto bandeirante que ali tinha terras, nesta época a rua era dividida entre as duas famílias principais de São Paulo: de um lado, ou de uma "banda" como se costumava dizer, ficava a casa de João Ribeiro, e de outro lado, ou de "outra banda" a casa de Rufino de Moraes. Esta rua não passava de pouco menos de meia dúzia de casas de taipa.
Entre 1711 e 1715 foi erigida a igreja do Rosário (na atual Praça Antônio Prado), mais tarde dedicada à Irmandade do Rosário dos Homens Pretos, importante confraria que lutaria no fim do século XIX pela abolição da escravatura. Assim a Rua do Paço Manoel Paes de Linhares, na verdade uma trilha que servia de comunicação entre o Largo da Sé e a igreja do Rosário, passou a ser chamada de Rua do Rosário dos Pretos.
Nessa época, a rua também servia de principal acesso ao porto geral, pela ladeira de mesmo nome, porto esse que não existe mais devido a canalização do rio Tamanduateí, que hoje passaria em baixo da atual rua 25 de Março.
O nome permaneceu até fevereiro de 1846, quando a família imperial brasileira visitou São Paulo, e como homenagem à visita de dom Pedro II e de sua esposa, o local passou a chamar Rua da Imperatriz. Assim permaneceu até a proclamação da República, em 1889, passando a ter o nome definitivo de Rua XV de Novembro.
Rua do Rosário em 1858. Pintura de José Wasth Rodrigues |
Rua do Rosário em 1862. Foto de Militão Augusto de Azevedo. |
1862 - Rua do Rosário em direção ao largo da Sé. Foto de Militão Augusto de Azevedo. |
1862 - Rua do Rosário em direção ao largo da Sé. Foto de Militão Augusto de Azevedo. |
1858 - Rua do Rosário. Parte compreendida entra a Rua da Quitanda e a antiga Igreja do Rosário. Pintura de José Wasth Rodrigues. |
1862 - Rua do Rosário. Foto de Militão Augusto de Azevedo. |
Na foto acima é possível ver, à esquerda, do lado oposto a um poste de iluminação pública a gás, dois homens, sendo que um deles está segurando um bebê. Ambos olham imóveis para o fotógrafo. Vê-se também o estrume dos cavalos que pontuam o desenho irregular da rua de pavimentação precária.
Em metade do século XIX, a rua já se consolidava como principal artéria econômica do triângulo histórico. Com tanto desenvolvimento comercial nas imediações, a Igreja do Rosário que só atraia pessoas mais pobres e descendentes de escravos, acabou por ser demolida, e as famílias que do lado moravam acabaram se espalhando para os bairros mais pobres. A Igreja acabou sendo reconstruída no Largo do Paissandú, e está lá presente até hoje.
1887 - Rua da Imperatriz. Foto de Militão Augusto de Azevedo. |
Na foto acima, o fotógrafo se posicionou do lado esquerdo, no final de uma quadra que termina no Largo do Tesouro. A primeira loja à esquerda, onde se consegue ler "Recebem-se calçados... da Europa" é a Loja do Rocha. Fundada em 1874, iria se manter por muitas décadas ainda como estabelecimento de prestígio.
Ao lado da Loja do Rocha, onde se vê um galo, ficava a oficina "Ao Galo", do alfaiate Siqueira, que vendia roupa feita.
Depois, onde se vê uma cartola ao alto e outras várias mais abaixo, próximo à entrada da loja, estavam a Chapelaria Moderna, de João Exel, e a Chapelaria Souza.
Na esquina, em franca prosperidade, um dos poucos remanescentes do comércio da década de 1860, o relojoeiro Luiz Bamberg, com relojoaria e ótica.
Do outro lado da rua, o depósito de calçados no número 17 é o negócio de Chagas, Carvalho e Companhia. Ao lado há uma farmácia, sendo que no mesmo número estavam registradas a "Pharmacia do Rosário", de "Fonseca & Souza", e a "Pharmacia Paulistana" de Camilo Bourroul. Na primeira porta desse edifício, o Chalet do Propheta promete prever o número do bilhete de loteria que seria sorteado. Uma das placas à porta diz: "amanhan a roda anda / 300 contos".
1887 - Rua da Imperatriz. Foto de Militão Augusto de Azevedo. |
Na foto acima, em primeiro plano, está a Alfaiataria do Globo. No imóvel seguinte, que em 1862 era ocupado pelo cabeleireiro Pruvot, em 1887 era ocupado pela alfaiataria de Manoel Dias da Cruz, "Á Tesoura de Ouro", podendo-se ver na placa oval à sua frente, uma figura de tesoura aberta.
Na casa seguinte, onde antes havia uma casa térrea que abrigava a loja de fazendas de Custódio Fernandes da Silva, em 1887 (em um sobrado com fachada neoclássica) funcionava a Imperial Confeitaria de Adolfo Nagel, que já existia desde 1873 e cujo nome se vê, em relevo, sobre as portas do estabelecimento.
1906 |
1912 - Rua 15 de Novembro (em frente), esquina com a Rua Direita (à esquerda), em direção à Praça Antônio Prado. |
De origem rural e humilde, que abrigou casas de taipa no início da sua história, tornou-se a mais nobre e cosmopolita das três ruas do Triângulo. A paisagem arquitetônica passou a imitar à parisiense. Aos poucos, a rua foi ladeando-se de uma vizinhança sofisticada, lojas com conteúdo aristocrático, além de abrigar os mais caros estabelecimentos comerciais e as então florescentes casas bancárias.
1953 |
Armarinho, secos e molhados, oficinas pequenas, pelo século XIX, fizeram o orgulho da primitiva rua da Imperatriz. Depois vieram as lojas de mais luxo, as confeitarias e casas importadoras, já no regime republicano, destacando-se sobretudo os cafés de mesinha, com média e pão quente.
1960 |
O paulistano abastado encontrava na Rua XV de Novembro, todos os acessórios e procedimentos para trazer glamour à sua nova condição de habitante de uma metrópole que começava a borbulhar como tal; desde as mais caras jóias, às roupas sob os moldes europeus, os perfumes mais delicados e suaves, até o corte de cabelos e barba. Desde alfaiates, tecidos, cabeleireiros, sapatarias, joalherias e costureiras, tudo que se comercializava na Rua XV de Novembro, era anunciado como procedente de Paris. Também aqui estavam estabelecidos: o London Bank, o Banco do Comércio e Indústria, o Banco Alemão e Credit Foncier.
Já no princípio do século XX, a rua XV de Novembro era a preferida para passeios elegantes. Foi ali o "footing" das moças bonitas e dos pelintras de chapéu de palha, cognominados de "almofadinhas".
Já no início do século XX, a Rua XV de Novembro tornou-se a mais sofisticada da Paulicéia, sendo visto nela desfilar bondes, carruagens faustosas, conduzidas por cavalos de raça. Era para esta rua que convergiam os jornalistas, os políticos, os barões do café, os banqueiros e os intelectuais, tornando-se os seus cafés pontos de tertúlia e de transações comerciais. Na paisagem da rua, diferentes pessoas eram vistas, desde a fina sociedade paulistana, aos visitantes estrangeiros e os imigrantes que chegavam para conquistar um lugar ao sol. Mulheres elegantes, trajando toaletes e jóias que em nada deixavam a desejar a mais fina sociedade européia.
Era na Rua XV de Novembro que se encontrava o escritório fotográfico de Guilherme Gaensly, de onde foram feitos os principais registros fotográficos da emergente sociedade paulistana que enriquecia com o café. Outro pioneirismo da arte visual foi visto pela primeira vez nesta rua, a chegada da “lanterna mágica”, também conhecida como “fotografia animada”, que mais tarde seria chamado de cinema. A primeira animação cinematográfica foi apresentada em um salão da XV de Novembro. A bela iluminação noturna da rua ajudava a manifestação do que seria o futuro cinema.
Prédios suntuosos passaram a construir a paisagem da Rua XV de Novembro. Neles charmosos cafés foram abertos, faustosas casas de modas e joalherias traziam os mais belos mostruários, os mais ricos e luxuosos objetos de consumo. Com prédios de estilo arquitetônico florentino, esta rua era a transposição definitiva da lapidação da velha São Paulo de Piratininga.
Mais tarde, já mais para o nosso tempo, com o fim da administração do prefeito Antonio Prado, as casas comerciais foram desaparecendo para dar lugas a Bancos. A cidade crescia e era preciso dar vida ativa ao comércio bancário. E até hoje ali proliferam os Bancos. E porque assim se materializou no interesse do cifrão, a antiga preferência social dos frequentadores jovens passou para a rua Barão de Itapetininga.
A RUA XV DE NOVEMBRO NOS DIAS DE HOJE