PátIo do Colégio

PATEO DO COLLEGIO (Grafia original)

O Colégio Real de Piratininga foi a primeira habitação construída pelos jesuítas em 1554 e concluída no final de 1556. Era uma cabana construída pelos índios, de pau a pique e com paredes pintadas de branco provenientes da tabatinga. Conforme descrição do próprio Anchieta, a mesma media 14 passos craveiros de comprimento por 10 de largura, (passo craveiro era uma medida linear portuguesa). Equivaleria a 95,28m2. A humilde casa, desprovida do mínimo conforto, abrigava também um seminário e uma escola de "curumins". 


Em 1556 o padre Afonso Brás, precursor da arquitetura brasileira, foi o responsável pela ampliação da construção original, que recebeu oito cubiculos para servir de residência aos jesuítas. Era o segundo colégio.

Em 1585 é erigida a terceira edificação, de taipa de pilão. Eis em síntese, as características arquitetônicas do colégio: Trata-se de enorme prédio constituído de dois pavimentos retangulares, com 23,70 metros de fachada, construção mista de pedra e taipa apiloada, alicerces sólidos e profundos, paredes de grande espessura, pintadas a tabatinga (barro branco, material argiloso), telhado de duas águas, provido de amplos beirais em balanço, amparados por cachorros aferentes que servem de elemento de sustentação. Na falta de calhas devido ao alto custo de cobre laminado ou de material similar, as funções dos beirais consistiam em evitar que a água despejada dos telhados fosse aos poucos desagregando o barro das paredes e comprometendo, com o decorrer do tempo, a estabilidade do edifício.

É simples a composição da fachada, austera e sóbria, sem qualquer rebuscamento decorativo, como convém aos monastérios. O pavimento térreo insere, nos panos frontais, duas portas, duas janelas quadrangulares e três pequenas janelas retangulares. As portas são providas de largas folhas de madeiras almofadadas. Nova janelas se intercalam no frontispício do pavimento superior, todas guarnecidas de aros de pedra. Divide-se a parte térrea em 16 compartimentos, centralizados por amplo pórtico de distribuição, o qual proporciona acesso ao andar superior, mediante rústica escada de madeira, em dois lanços, situada na lateral esquerda. O vestíbulo proporciona interligação com o refeitório, cozinha, despensa, enfermaria, botica, salas e corredores de comunicação. Nas dependências ao fundo, estão localizadas as oficinas de trabalho, os alojamentos dos índios e negros, no pomar, um chafariz de pedra com quatro carrancas, de cujos bicames abundante água jorra pura e cristalina. Junto ás alamedas do pomar, acha-se o famoso atraio de meditações no lugar onde, em seu tempo, Anchieta costumava ler o breviário e preparar os sermões.

Compõe-se o pavimento superior de quinze peças, inclusive três corredores desprovidos de janelas, ou qualquer envasadura, necessárias a ventilação e iluminação externa. Localizam-se nesse andar os dormitórios (doze selas ou “cubículos”), biblioteca, capela, câmara, secretaria e sala capitular. Os compartimentos são assoalhados e forrados.

Pátio do Colégio. Pintura de Benedito Calixto.

O antigo edifício interligava-se inteiramente ao sobradão adjacente (unido em ângulo reto) ao qual se incorporou, formando um todo. Segundo o auto de avaliação feito em abril de 1827, as fachadas dos dois sobrados mediam, em conjunto, 373 palmos de testada. Nesse venerando prédio funcionava o colégio ou seminário e, também, os diversos cursos de ensino para religiosos e leigos, cujas as disciplinas eram lecionadas exclusivamente pelos Jesuítas.

Em 1640 os jesuítas foram expulsos devido a disputa entre colonos e índios. Só voltaram em 1653, período este que nada foi feito, só encontram ruínas. Um novo conjunto do Colégio foi construído pelos jesuítas, agora de taipa de pilão, melhor do que o pau a pique. A taipa utilizada era feita de barro, terra úmida, folhas, ervas e até sangue de boi e estrume, que eram misturados e socados num pilão. Depois todo esse material era colocado em duas pranchas verticais para que a mistura secasse.

Em 1745 O colégio teve nova ampliação com uma ala perpendicular do lado direito do edifício principal.

1759 foi o ano fatal para os jesuítas. Foram expulsos das colônias de Portugal, agora por decreto do Marquês de Pombal. Os jesuítas só voltariam ao Brasil para recobrar seus direitos de espaço, em 1954, na comemoração do 4º centenário da fundação de S.Paulo, isto é, depois de 195 anos. Nesse meio tempo, o governo se apropriou das terras da Companhia de Jesus e tudo é descaracterizado transformando-se em Palácio dos Governadores entre 1765 e 1908. 


Entre 1815 e 1877 nele funcionaram também a Secretaria do Governo e a Assembléia Provincial. Na ala perpendicular estavam instalados o Correio Geral e as repartições fiscais da província de São Paulo. Nessa data foi feita a urbanização do Páteo.

Pátio do Colégio, em 1824, pintura de Jean Baptiste Debret
Pátio do Colégio em 1858. Pintura de José Wasth Rodrigues


1881

Em 1890 desabou a cimalha do templo de Anchieta e ele foi demolido em 1896, aumentando o espaço público, que foi todo aproveitado para aumento das dependências do palácio. Antes de desabar tinha sido palco da célebre missa dos domingos ao meio dia, missa chique, freqüentada pela elite da cidade. Ao lado do palácio passava a linha de bondes á tração animal, da Companhia Viação Paulista, que fazia o itinerário Carmo - Estação da Luz e que foi inaugurada a dois de outubro de 1872.

O Estado de S.Paulo - 14 de março de 1896

No final do século XIX, durante o governo de Florêncio de Abreu, o conjunto inteiramente remodelado assumiu feições neoclássicas condignas de sua categoria de sede do executivo. O largo na frente do colégio foi dotado de primorosos jardins e uma fonte. Carvalhos, caramanchões, vendedores de amor perfeito e violeta davam o toque colorido e romântico do lugar. Cantos de pássaros e ruídos urbanos dos bondes e das vozes davam o tom de espaço importante da cidade. O espaço era franqueado ao público aos domingos que era atraído pelos concertos das bandas de música do Corpo de Bombeiros e da Polícia permanente. O coreto, bastante amplo e aberto em concha emergia no meio das árvores frondosas. Pouco antes da entrada do jardim, no ângulo formado pelo largo do Tesouro e o início da ladeira, um artístico chafariz completava o conjunto, amenizando com sua escadaria o pronunciado declive local. Foi palco de manifestações cívicas, e de concertos musicais. 



Em 1912 a residência oficial do governo e a sede do governo foram transferidos para o Palácio dos Campos Elíseos e o prédio ocupado pela Secretaria da Educação. Em 1914 foi feita a reforma da torre e acréscimo da ala lateral.

Lugar nobre de São Paulo, em 1925 ganha para sua maior beleza o monumento à fundação de São Paulo. Obra do italiano Amadeu Zanni em granito e bronze. Consiste em uma coluna encimada pela figura de uma mulher de braços erguidos, simbolizando a glória. No pedestal, baixos-relevos com alegorias à catequese, à primeira missa, à defesa da cidade pelo cacique Tibiriçá e ao encontro dos padres jesuítas com os índios tamoios. A inscrição diz “Glória imortal aos fundadores de São Paulo”.

Região importante para a administração da cidade, o Largo do Palácio, como era então chamado transformou-se em verdadeiro centro cívico. Aí se achavam lado a lado vários edifícios governamentais. A antiga Secretaria da Fazenda (1886-1891) e a antiga secretaria da Agricultura (1891-1896) remontam a essa época. Ambas de autoria de Ramos de Azevedo “o arquiteto oficial da cidade”,

Demolido o palácio em 1953 permitiu que o espaço fosse devolvido logo no ano seguinte para a Companhia de Jesus que então reconstruiu colégio e igreja, como monumento histórico e o “Páteo do Collégio” readquiriu sua feição primitiva em 1979.