A avenida 9 de Julho é uma via que constitui elemento de destaque no sistema viário principal da cidade pelo seu papel de eixo radial de ligação entre o centro da cidade a região Sudoeste, a região da Avenida Paulista e a Marginal Pinheiros, assim como com outras vias arteriais no município. Caracteriza-se ainda, especialmente no trecho que se localiza no centro, como uma avenida de fundo de vale.
O nome da avenida remete ao dia 9 de julho de 1932, data do início da Revolução Constitucionalista de 1932.
1947 |
Foto do viajante americano Roger Wollstadt na primeira metade da década de 70. |
Foto do viajante americano Roger Wollstadt na primeira metade da década de 70. |
O CÓRREGO SARACURA
“Uma leprosa costumava banhar-se nas águas do Saracura” – A notícia, de 26 de março de 1724, é a primeira alusão registrada sobre o ribeirão do Saracura, cognominado de “rio misterioso” por alguns cronistas antigos de São Paulo.
Representação da cidade de São Paulo em 1560, delimitada pelo Ribeirão Saracura, atual avenida 9 de julho |
Chamado também de córrego do Tanque Reiuno, o Saracura nascia no morro do Caaguaçu (avenida Paulista) para vir desembocar, à esquerda do rio Anhangabaú, na altura do antigo largo da Memória, ao pé de onde hoje está a Estação Anhangabaú do Metrô. Tinha dois afluentes, o córrego Saracura Pequeno, e o Ribeirão do Bexiga que, após atravessar as atuais ruas Santo Amaro e Santo Antônio encontrava suas águas próximo ao final do seu trajeto.
Os carros de bois e as tropas que conduziam mantimentos para São Paulo, vindos de Atibaia e de Parnaíba, como entravam na cidade pelo oeste, deviam estacionar na chácara do Bexiga, entre os rios Anhangabaú e Saracura, ordenava o governador Lorena, em 1791.
A CONSTRUÇÃO DA AVENIDA
Com início na década de 1920, as obras na avenida 9 de julho começaram durante a gestão do prefeito Pires do Rio, que sonhava com uma via que corresse no meio de um parque, desde o Vale do Anhangabaú até a Avenida Paulista. O tal parque nunca saiu do papel, e a avenida só foi concretizada em 1941, por Prestes Maia.
1947 |
Em 2004, foi enterrada a fiação, ajeitada a calçada e providenciada a instalação de novos pontos de ônibus.
Mais recentemente, com a Lei Cidade Limpa, foram retirados outdoors e letreiros que escondiam as fachadas de casarões. Essa faxina, no entanto, revelou uma faceta feia e malcuidada da avenida. Entre a Alameda Lorena e a Avenida Brasil, um de seus trechos mais elegantes, contam-se ao menos cinco imóveis em estado deplorável de conservação. Os muros estão pichados, os tapumes velhos, os vidros quebrados e o lixo amontoado à porta. Um dos casos mais emblemáticos é o da mansão do número 4130, vizinha ao Automóvel Clube Paulista, onde há blocos de concreto tapando as janelas. Foram colocados depois de uma ação de despejo de sem-teto. Era uma das casas mais luxuosas do bairro. Possuía fonte e elevador.
O TÚNEL
A Avenida Nove de Julho passa a aproximadamente trinta metros abaixo da Avenida Paulista, por meio do Túnel Daher Elias Cutait.
O Túnel, mais conhecido por sua denominação de origem, Túnel Nove de Julho, Situa-se às proximidades dos bairros Bela Vista na região central e Jardins, na zona oeste, fazendo o cruzamento subterrâneo desta avenida com a Avenida Paulista. Foi construído no local onde existia a antiga Avenida Anhangabaú.
Túnel em construção, 1937. Foto: Marco Barbosa/Estadão |
Ao lado do presidente Getúlio Vargas, o então prefeito Prestes Maia inaugurou no dia 23 de julho de 1938, o túnel foi projetado pelo engenheiro italiano Domingos Marchetti para unir o centro da cidade aos bairros da zona sul e possui duas galerias independentes, cada uma com duas faixas de rodagem. No seu interior passam os ônibus do Corredor Santo Amaro-Nove de Julho.
O túnel foi construído para ligar o centro a uma zona sul onde existiam apenas sítios, alguns palacetes e casarões que ocupavam quase um quarteirão inteiro. Na praça 14 Bis havia apenas o bebedouro de cavalos para os carroceiros que iam fazer compras no Mercado Central, além de muito mato na avenida.
A ligação rápida entre o centro e a zona sul era um velho sonho dos paulistanos. Antes do túnel só era possível fazer esse trajeto subindo o espigão da avenida Paulista, obstáculo natural que impedia o desenvolvimento da capital para os lados das chácaras do Itaim e de Santo Amaro. A construção da passagem subterrânea ofereceu uma alternativa mais rápida e mudou a paisagem da região, que foi perdendo a aparência rural de seus vales e jardins para dar lugar aos grandes edifícios.
O túnel levou um ano para ser construído e custou aos cofres públicos 17.192 mil contos de réis. A obra fazia parte do famoso Plano de Avenidas, elaborado por Prestes Maia no início dos anos 30 para o prefeito Pires do Rio.
Em 2001 a via subterrânea foi rebatizado de Daher E. Cutait pela prefeita Marta Suplicy (PT), mas o nome "não pegou" e ficou apenas grafado nas placas entre parênteses.
Túnel 9 de Julho na década de 50 |
Túnel 9 de Julho na década de 50 |