1666
Dentre os mais estrambóticos depoimentos antigos sobre os paulistas acha-se o de dois missionários capuchinhos, frei Miguel Ângelo de Gattina e frei Dionísio de Carli de Piacenza, que, nos anos de 1666 e 1667, percorreram o Congo, depois de tocarem em Pernambuco.
Muito devem tê-los impressionado o que no Recife ouviram sobre a gente de São Paulo.
Homens de boa-fé foram certamente vítimas de algum gaiato que lhes impingiu verdadeira história da carochinha: “A cidade de São Paulo e seu Distrito, que existem em determinada região do Brasil, podem ser chamados a terra do maná ou o país do rega-bofe. Nenhum estrangeiro que ali vá ter, por mais pobre que seja, deixa de ser recebido de braços abertos.
“Arranja logo mulher a seu gosto, contanto que se submeta a algumas condições que são: só cuidar de comer, beber, e passear, mas também não se engraçar com nenhuma outra mulher senão com a própria.
Se por acaso der o estrangeiro o menor azo a suspeitas, terá que tratar de fingir, pois senão, morrerá certamente envenenado pela companheira.
Também se desta se agradar e lhe for fiel, ver-se-á retributivamente amado às deveras, pois cada qual destas mulheres faz o possível para exceder às outras em carinhos!”
Depois destas curiosas e inesperadas revelações sobre o temperamento das antigas piratininganas, ainda referem os bons barbadinhos coisas as mais extravagantes sobre a riqueza dos paulistas: “Sua fortuna procede de um rio que lhes banha o país e é tão opulento que pode enriquecer o mais miserável dos alienígenas que ali acaso apareça. Nada há mais a fazer do que explorar alguém as areias de tal rio para lhes retirar o ouro; dá-se apenas o quinto ao rei a título de vassalagem.”
Depois de contar estas maravilhas, acharam os capuchinhos mais prudente não ir adiante.
Não que lhes não houvessem impingido outras patranhas: “Coisas muito mais curiosas e extraordinárias são narradas de semelhante terra, mas como lá não estive, repara frei Miguel Ângelo, porque se encontra na extremidade do Brasil perto do rio da Prata, não ouso dizer que tudo possa ser verdade.”
Tão impressionado estava, porém, o cândido missionário com o percorrer terras exóticas que, imediatamente, acrescenta a fim de não prejudicar sua boa fama de informante, perante os leitores: “Note-se que a realidade nada disto deve ser tido à conta de incrível para eles que se acham familiarizados com os hábitos extravagantes e os costumes absurdos das nações bárbaras.”
1671
A 22 de agosto via-se a Câmara forçada a exigir que só se adquirissem couros “de pessoas muito justificadas quando não fossem criadores”.
1672
Nos remotos milésimos seiscentistas não se mencionava a situação exata dos imóveis. Em 1672, se dizia no inventário de Estêvão Furquim: “fez hypotheca de duas moradas de casas que possue nesta villa, que são sabidas”.
1678
O aparelhamento forense da vila vinha a ser então o mais deficiente. Em 1678 proclamava a Câmara a necessidade de existência de mais um ofício notarial. O único tabelião em exercício não dava vazão ao movimento das transações. Os ouvidores observavam aliás que nos livros tabelionais reinava grande desordem e confusão.
1680
Datam, ao que parece, os primeiros ensaios estatísticos realizados em terras paulistanas. Refere-se a ata de 29 de fevereiro “a informação de um mapa” que o Capitão-Mor Diogo Pinto do Rego pedira por ordem do Governo-Geral do Brasil com dados sobre a vida da Capitania.