Teatro Municipal

O Teatro Municipal foi idealizado nos moldes dos melhores teatros do mundo para atender principalmente à ópera, a primeira forma artística e de lazer típica da burguesia e em virtude do grande número de italianos que viviam em São Paulo. 


Pouca gente sabe, mas o Theatro Municipal de São Paulo (escrito assim mesmo, com “H”) só foi construído porque o outro teatro da cidade, o São José, foi perdido em um incêndio no ano de 1898.




A missão de desenhar um novo teatro foi dada a Ramos de Azevedo e aos italianos Cláudio Rossi e Domiziano Rossi. Para tanto, a Câmara Municipal desapropriou, em 1903, o terreno do Morro do Chá. O processo duraria 8 anos e no dia 12 de setembro de 1911 o Theatro Municipal foi inaugurado para uma multidão de cerca de 20 mil pessoas que aguardavam para ver o novo espaço que abrigaria grandes espetáculos internacionais.


O edifício traduz uma mistura de estilos, conforme observa o arquiteto português Ricardo Severo:

"A architectura exterior do edifício é composta no estylo do renascimento barroco, ao qual os artistas italianos chamam 'seiscento'. E o estylo clássico, com typos e modulos da renascença grego-romana, mais variada, porém, na apropriação desses typos e com maior liberdade imaginativa no emprego da linha curva, nos motivos e detalhes ornamentaes". 

Além do ecletismo de estilos, os materiais e os trabalhos foram encomendados pelo Escritório Ramos de Azevedo em vários países.

Benedito Lima de Toledo analisa:

"A armadura de ferro foi encomendada em Düsseldorf, o ferro artístico em Frankfurt, o bronze artístico em Berlim, Paris e Milão; os mosaicos vieram de Veneza, os mosaicos de pavimento, de Nova York e Berlim, os mármores de Siena, Verona e Carrara e como esses, dezenas de itens foram contemplados com uma especificação exigente". 

O Teatro Municipal foi inaugurado em 12 de setembro de 1911, com a ópera Hamlet de Ambrósio Thomas. Foi um sucesso! O jornal Gazeta Artística escreve no dia seguinte: 

"Esteve deslumbrante a inauguração do Teatro Municipal pela companhia do barítono Titta Ruffo. Desde que anoiteceu o teatro ficou interior e exteriormente iluminado. Nas vizinhanças via-se numeroso público, carros e automóveis, com pessoas da melhor sociedade, que admiravam o belíssimo panorama. O Viaduto estava repleto. Pouco depois das 20 horas começaram a chegar os espectadores, todos em traje de rigor. A apresentação terminou às 12 horas e 25 minutos da noite, no meio ao grande entusiasmo do público. No interior do teatro foram distribuídas riquíssimas 'plaquettes', contendo a descrição e o histórico do teatro até sua inauguração. Durante o espetáculo foram tiradas muitas fotografias a magnésio. No jardim permaneceram numerosas famílias até tarde da noite". 

D. Brites, moradora da antiga São Paulo, foi testemunha da crescente participação feminina na vida da cidade. Diz ela:

"Em 1923, 1924 começaram a vir pra cá pianistas como Brailowski, Arthur Rubinstein, no Teatro Municipal. Pela primeira vez, nós mulheres, começamos a ir na galeria. Um grupo de alunos do Maestro Chiaffarelli comprou entradas para a galeria e enfrentou os olhares do público. Daí por diante nós sempre freqüentamos as galerias. Foi um avanço social na época". 

De 1912 a 1926, o Teatro Municipal apresentou 88 óperas de 41 compositores, sendo 17 italianos, 10 franceses, 8 brasileiros, 4 alemães e 2 russos, no total de 270 espetáculos. 

Em 1922, um grupo de poetas, escritores, músicos e artistas plásticos de São Paulo e Rio de Janeiro, sob o patrocínio do fazendeiro Paulo Prado, promove "uma semana de escândalos literários e artísticos, de meter os estribos na barriga da burguesiazinha paulistana". A Semana de Arte Moderna de 1922, como ficou conhecida, foi um evento explosivo que ocorreu no Teatro Municipal e renovaria, para sempre, o panorama das artes brasileiras. 

Aliás, desde a sua inauguração até os dias de hoje, o Teatro Municipal foi palco de artistas famosos nacionais e internacionais, como os cantores líricos Enrico Caruso e Maria Callas, as bailarinas Isadora Duncan e Anna Pavlowa, os dançarinos Nijinski e Baryshnikov, as atrizes Itália Fausta e Clara Della Guardia e os músicos Ravi Shankar e Duke Ellington.

"Seu efeito simbólico arquitetônico e urbanístico externo se equiparava ao prodigioso poder de catalisação cultural que emanava internamente do seu palco. Nesse sentido, o teatro atuava como uma caixa de emissão e repercussão de símbolos em igual", analisa o historiador Nicolau Sevcenko.

Foto de Dmitri Kessel. 1947

Três grandes obras marcaram as mudanças no Theatro: a primeira, em 1954, criou novos pavimentos para ampliar os camarins, reduziu os camarotes e instalou o órgão G. Tamburini; a segunda, de 1986 a 1991, restaurou o prédio e implementou estruturas e equipamentos mais modernos.

Para celebrar o Centenário, em 12 de Setembro de 2011, o Theatro Municipal de São Paulo sofreu sua terceira obra, esta bem mais complexa e importante que as demais, que tinha como objetivo restaurar todo o edifício e modernizar o palco. Mais de 14 mil vidros que compõem os vitrais foram recuperados, pinturas foram resgatas e o palco foi equipado com novos equipamentos.

O corpo artístico do Theatro Municipal de São Paulo é composto, atualmente, pela Orquestra Sinfônica Municipal, Orquestra Experimental de Repertório, Balé da Cidade de São Paulo, Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo, Coral Lírico, Coral Paulistano e as Escolas de Dança e de Música de São Paulo.